domingo, 23 de maio de 2021

Animes e Mangás antigos e seus fansubs e scanlators parte 37: Paros no Ken.


(REUP! Análise nova e atualizada!)
Nome: Paros no Ken (The Sword of Paros)
Autora: Kaoru Kurimoto, Yumiko Igarashi
Ano: 1986 - 1987
Tipo: Mangá, 3 volumes.

 Quando se estuda sobre história do gênero shoujo, há muitos titulos conhecidos que infelizmente tiveram pouco destaque ou mal apareceram no Brasil - Isso ocorreu com Candy Candy, obra em mangá dos anos 70 terminado em 9 volumes que teve adaptação em um anime de 115 episódios - sim, foi uma adaptação cheia de encheção de linguiça.

 Apesar de ter passado na tv record, sua dublagem nunca foi terminada, na época a emissora passava por problemas financeiros e usava muitos programas, inclusive Candy Candy como tapa-buraco. e portanto nunca os fãs brasileiros daquela época vieram a ter conhecimento do desenrolar e desfecho da trama, que fez muito sucesso em países da Europa e principalmente latinos.

 Minha história de pesquisa sobre esse tipo de obra foi com o falecido Shoujo House, apesar de hoje em dia minha mente ter mudado,

 É praticamente uma novela cheia de monólogos emocionais e melodramáticos como em Maria do Bairro, fala de uma garota que foi abandonada ainda bebe num orfanato de nome "lar da pônei", e num momento de muita tristeza em sua vida, apareceu-lhe um garoto muito bonito, loiro, de olhos azuis usando um kilt e tocando gaita de fole que lhe conforta, e logo após desaparece sem ao menos saber seu nome. O mangá passa vários arcos da vida pessoal de Candy, e assim como a Rosa de Versalhes, chegamos a vê-la na sua fase adulta, a separação que teve de sua melhor amiga, a família que somente lhe quer para usá-la de serviçal, sua procura de encontrar-se novamente com o garoto da gaita de fole... Candy foi uma personagem carismática porque além de altruísta, era meiga e sapeca, e se me lembro bem odiava suas sardas assim como Anne do livro Anne with an "E". Se olharmos esse tipo de obra com o olhar de hoje, podemos sentir certo estranhamento, por achar o traço antiquado, mas quem curte velharia, como eu, curte ver a delicadeza dos olhos brilhantes. Afinal os olhos são a porta da alma, diria Big Eyes.

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 Infelizmente, assim como o anime, é pouco provável sonhar com um relançamento do anime e do mangá aqui, não por ser muito antigo, e sim pela história antiga de processos entre a escritora do roteiro e a ilustradora do mangá, que diz que a segunda se apossou de maior parte dos lucros sobre a obra. Ainda hoje Kyoko Mizukie Yumiko Igarashi continuam se bicando, porém, isso não é impeditivo para que obras mais undergrounds que ambas não fizeram dupla apareçam aqui, como Lady Georgie; que conta a história de uma menina adotiva que só tem o seu bracelete como pista para encontrar sua familia verdadeira, suas desavenças com sua mãe adotiva e o triangulo amoroso com seus dois irmãos. Lady Georgie é até mais maduro que Candy, pois apresenta cenas explicitas de nudez.  

 Tem Mayme Angel que chegou a ser lançado na Espanha e ainda preciso ler; se passa na época da expansão americana, na capa aparece a personagem principal vestida de cowboy, e com os mesmos olhos brilhantes de Candy Candy - da até para dizer que a personagem é uma atriz que aparece em vários mangás de Yumiko Igarashi; isso que gosto num mangá antigo, você bate os olhos e muita das vezes você já consegue adivinhar quem é o autor, não tinha, ao menos não na mesma quantidade, essa quantidade de mangás com traço genérico.  Dentre essas obras undergrouds teve uma que li recentemente, que se chama Paros no Ken, para o português para A espada de Paros. 

 Confesso que estava distante no que se diz yaoi e yuri clássico, não só pela falta de tempo, quando cresci minha mente e ideologia mudaram. Meu interesse por mangás e animes classico foram despertados pelo finado site Shoujo House, onde a autora do blog Shoujo Cafe adicionava pagínas separadas e bem descritivas sobre muitas das séries que me aparentavam ser suas favoritas. Lá conheci Utena, Alpen Rose, Onissama e..., Thomas no Shinzou, Kaze to ki no Uta... E no decorrer da minha jornada pessoal, reparo que me deixei influenciar por ela assim como me deixei influenciar por alguns professores de história - que não culpo, estavam na didática deles passar o que o MEC os ditava.

 Não é uma questão de religião, porque sou abertamente agnóstica, mas as causas lgbts foram tão engendradas ao esquerdismo, que eu comecei a ter repulsa mental, porque apesar de falarem que se trata só de respeito ao próximo, percebe-se que a esquerda não é a favor de liberdade quando quer um estado forte e interventor para guiar-lhes e ditar-lhes a sua vida e a de outros, quando não aceitam opiniões contrárias mesmo no próprio movimento, ou no que supunha ser debates atacarem vilmente quem lhes sugere opiniões e hipóteses contrárias. Estou me desintoxicando, porque independente de algum possível feminismo expresso em muitas das obras que tenho estima, sei agora melhor separar obra de autor. Se a autora pensa ou deixa de pensar da forma dela, que deixe-a como tal sem me deixar influenciar ou sem isso de certa forma afetar minha vida, por culpa de ninguém menos que eu mesma.

 Já assisti e li outras obras yuri classicas, como Shiroi Heya no Futari, Maya Funeral Procession e Claudine, todas de volume unico e histórias simples de romances impossiveis, naquela épca o japão via muito isso como uma fase da adolescencia ou como algo sem futuro, e todas elas acabavam com finais trágicos. Menos mal de que Paros no Ken termina em aberto, para interpretação livre.


 Retornando a obra, a história de 3 volumes conta a história de um reino fictício provavelmente baseado na Grécia, chamado Paros, onde diz-se que apenas um descendente de sangue real pode levantar o tesouro que é a espada de Paros, porém uma pessoa que não é nem homem nem mulher irá segurar essa espada, e ela poderá ser tanto a glória como a desgraça da nação. Nesse contexto, somos apresentados a Erminia, que apesar de princesa, sente-se amaldiçoada por agir e se sentir como homem, e o pai que inicialmente a apoiava vendo em seu comportamento uma forma de lidar com a morte precoce de sua mãe, se sente alarmado com o perigo de não ver sua filha se casar e gerar novos herdeiros para o trono, assegurando a soberania de Paros.

 Erminia em muitas páginas aparece usando as roupas de um soldado romano, é uma moça muito bonita e indomável, sabe lutar, sabe andar a cavalo, usar uma lança, e não consegue admitir os ultimatos do pai, que já não se importa mais com a posição de seu marido, desde que a filha se case. Em muitas páginas se vê o peso da obrigação, e como sua forma de agir é tida como egoísmo, suas criticas ao casamento arranjado e a submissão que se espera do gênero feminino numa sociedade, mesmo ela tendo tido muita liberdade para sua posição, ainda se sentia pressionada e lutava contra seu destino. Sua postura forte, lembra muito Oscar de a Rosa de Versalhes, mas diferentemente dela, Oscar não era lésbica.


 Embora muitos homens tenham por ela interesse amoro, principalmente seu irmão adotivo Yurias, aqui o verdadeiro par amoroso para Erminia é Fiona; Uma garota pobre, órfã que trabalha de lavadeira cujo os outros tiram sarro por acreditar em príncipe encantado. Essa relação apesar de ser muito desaconselhada lhes é nutrida e causam para ambas muitas consequências, politicas e sociais no decorrer do mangá.

 Interessada em atrasar ainda mais suas obrigações, Erminia faz um trato com o pai: Aceitaria se casar depois de um grande torneio de artes marciais, onde homens de toda parte do país iriam competir entre sí, e no final batalhariam contra ela própria, pois Erminia orgulhosa não aceitaria um homem mais fraco que ela.

 O fiel e leal Yurias participa desse torneio jurando não aceitar perdê-la para homem nenhum - shippei, me apaixonei sim confesso. Nessa parte Fiona se torna menos presente, pois foi vitima de violência contra aqueles que conspiravam contra a princesa.


 A Espada de Paros podia muito bem ter recebido anime, a história é muito bem construída e lembra um poema épico, você torce para as personagens, e com aquele final aberto se pergunta o que acontece com eles. Infelizmente a roteirista morreu deixando uma outra obra inacabada, mas Yumiko Igarashi poderia muito bem assinar os papeiszinhos, é uma possibilidade muito distante, mas não custa sonhar já que até Jojo Bizarre Adventures conseguiu adaptação. A obra já foi totalmente traduzida pelo scanlator Yuri S2, sonhar também que depois do lançamento de A Rosa de Versalhes da JBC tenhamos cada vez mais mangás clássicos sendo lançados no Brasil. 


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