"Livre estou, livre estará" - algo do tipo, em latim.
Lembro de já ter falado sobre o fato de ter começado com fanfics, e embora eu tenha tentado postar algumas obras originais aqui, por muito tempo nunca cogitei tentar fazer algo baseado num universo já existente. Pra mim é algo que não faz muito sentido, gastar tempo em uma obra que não é sua - e é meio contraditório se eu for lembrar que comecei usando animes de meu gosto.
Minha mente mudou um pouco... Não é como se eu ainda não desse mais valor a algo original meu, mas fanfics sobre um universo já existente, sobre uma obra que você gosta, sei lá, vamos dar exemplo de Harry Potter. Ajuda a esquentar o coração do fã que sente falta daqueles personagens, dá mais material de enriquecimento, universos alternativos.
Vale lembrar pra quem desconhece, fanfic é que nem um fangame, quase sempre é sem fins lucrativos.
Agora preciso desabafar, falar coisas que senti nessa semana - pra mim foram turbilhão de emoções. Eu voltei a ler um mangá; uma HQ japônesa, que eu costumava a acompanhar e era super fã na minha adolescência.
Isso me fez ter contato com antigas memórias emocionais, um contato profundo com eu interior. Lembrei-me de verdade da origem de tudo. Comecei esse blog com o intuito de escrever escrita técnica, pois não me sentia inspirada ou emocionada o bastante para voltar a me aventurar na escrita criativa. Ao menos estaria me dedicando, e não ficando tanto tempo sem ocupação.
Acontece que não tinha coragem de rever meu eu daquela época, meus pensamentos, e no caso de um romance escrito em primeira pessoa, temia voltar a ter uma recaída; tenho histórico forte de depressão. Emocionalmente você fica muito fragilizado, você tem que incorporar um personagem que nem existe, gosto de fazer um paralelo com o treino mental que passam os atores de Coringa do Batman. Tinha medo também de rever meus traumas:
Eu não escrevi sobre um demônio, mas o vilão se comportava como um; ele é a personificação de todos os meus traumas, somatização de todo desconforto. Imagine uma pessoa dissimulada, e principalmente imprevisível; não tem como saber seus intuitos, ou só se diverte com a dor alheia.
Era uma figura sufocativa: Ele te fazia sentir inseguro, como se não importasse onde estivesse, ele conseguia enxergar seu comportamento, as suas falas, e usasse isso depois para torturar-te tanto físico quanto mentalmente. É alguém metódico acima de tudo, e do qual não se consegue fugir, alguém que prefere você vivo para se divertir as custas do que levar-te a morte.
Eu tinha medo de revê-lo, e também de ver ideias que não estão mais de acordo comigo - acontece que crescemos e desenvolvemos maturidade. Fiquei mais de 8 anos sem tocar naquele texto, sem ter coragem. Eu preferiria voltar a escrever algo feliz, afinal estou numa época da vida que considero muito feliz.
Tive uma depressão tão forte em 2013 que quando consegui me recuperar, ainda temia voltar a aquele inferno mental. Qualquer coisa que me fizesse ruminar demais, poderia vir a ser um perigo para mim, e eu me defendia. Tentei me proteger.
Essa obra me deu coragem.
Lembrei que comecei a ler ela quase na mesma época que comecei meu livro. O que vou dizer não se trata de um spoiler, pois é algo que acontece no começo e já fica descrito na sinopse:
Kuroshitsuji é uma obra gótica, seu nome pode ser traduzido como Black Butler no inglês ou mesmo Mordomo Obscuro no português. Ele se passa na era vitoriana, onde um menino de 10 anos de nome Ciel, filho de uma família de classe alta e de prestigio passa por grande desventura. No seu aniversário encontra quase todos da mansão mortos, inclusive seus pais, e uma seita ocultista o sequestra a fim de fazer-lhe muito mal.
Acredito que o melhor paralelo do que ele passou é a teoria do adênocrono, onde crianças precisam passar por enorme sofrimento, a ponto de matá-las por dentro pra criar um remédio milagroso. É parecido, não se sabe o que ele passou, mas colocou-o em situações de sofrimento desumanas.
Um dessa seita fala: Vamos tirar a pureza dessa alma pura e oferta-la num altar para o diabo. E funcionou.
No entanto o diabo não se afeiçoou ao interesse dos participantes da seita; na realidade, ficou intrigado com a determinação e ódio daquele garoto que serviria de sacrifício. Decidiu fazer um contrato com ele, e não com os demais participantes.
Ciel pede que ele o ajude a vingar sua família, mas em troca pagará com a alma.
Essa história mórbida afasta muita gente, principalmente devido a quantidade de fanservice exagerada que apareceu na animação. Muitos pensam que é uma obra gay, e alguns são mais controversos afirmando que a obra passa pano para pedofilia, porém até onde li isso não é algo evidente.
AMV que fiz relacionado a temporada Book of Circus,
pra mim até o momento o melhor arco junto com Emerald Witch.
Voltei a acompanhar a obra, tinha parado no volume 20 anos atrás, e em menos de 3 dias cheguei no volume 34; praticamente devorei os capítulos restantes.
Me surpreende sobremaneira a inteligência da autora em ter tido essa ideia. Há tipos de arte que a gente olha: Nossa, que obra legal, eu gostaria de ter tido essa ideia, e a ideia dela não é facilmente copiável. Todo mundo consegue imaginar um demônio advogado, e a mídia ajudou estruturar esse arquétipo.
Há quem diga que não se pode fazer um livro ambientado numa escola de magia que seria um plágio de Harry Potter - o que pra mim não faz sentido, já que "Os mundos de Crestomanci" foi escrito antes dele. Independente, se você tentar copiar a formula de Kuroshitsuji, você vai ser obrigado a por alguma dose do personagem Sebastian.
Sebastian é um demônio, mas quando incorpora o mordomo é pomposo, elegante, e consegue ser perfeito e competente em tudo que faz. Consegue esconder sua verdadeira identidade para muitos, mas aqueles que ficam no caminho do seu mestre acabam conhecendo sua verdadeira natureza.
O interessante dessa obra é o mistério por detrás dele; não sabemos sua origem, não sabemos seu passado, não sabemos se tem intenções, sentimentos, se eles são simulados. Acaba-se sendo criado muitas teorias em relação a isso. Esse é um motivo muito bom para não dar valor ao que dizem os boatos, porque o personagem tem várias camadas, e em muitos momentos ele parece insano, e pronto para dar o bote.
Outra curiosidade que devo salientar, é que a autora coloca muitos eventos históricos na trama, por exemplo aquela história de que quando alguém morria precisava deixar um sino fora do tumulo - nunca se sabe, vai que foi enterrado vivo.
Um arco foi envolto de uma realidade histórica, estou falando do arco do Titanic: Um lugar cheio de gente morta e um navio afundando, obvio que usou-se de liberdade criativa.
Até a pose do Di Caprio com a Rose serviu de referencia. Um personagem que esqueci o nome do lado de Grell, ambos ceifeiros de alma.
Gostaria de mostrar aqui um pequeno espoiler: Embora a sinopse evidencie o trato, as condições dele só são mostrada muito depois do capitulo 100. Fica alerta: espoiler.
É surpreendente a inteligência de Ciel, nessa página o demônio convida-o a mesa para discutirem o trato, pois ninguém gostaria de ser lesado ou sair em desvantagem. Sebastian tentou enganá-lo, falando que poderia ressuscitar entes queridos, e Ciel desconfia jogando-lhe na cara sua mentira. O menino tinha uma saúde frágil, mas era excelente estrategista e gostava de jogar xadrez. O trato concedia-o 3 desejos, e os desejos eram:
1 - Não minta para mim.
2 - Siga minhas ordens sem questionar até o fim da minha vingança.
3 - Não me traia.
Fim do espoiler.
Sinceramente, achei-o muito inteligente, agora voltando a minha história. Reler essa obra fez virar uma chave na minha mente, que eu não tinha só medo da minha história mórbida, eu me divertia.
Curiosidade menos relevante, eu tentei começar fazendo HQs, mas percebi que era uma tarefa muito árdua produzir um sozinha, e minha antiga arte refletia isso. Seria muito mais rápido e possível fazer um livro.
Embora esteja cheio de detalhes, quando eu tentei fazer um mangá não era tão caprichado, como eram vários quadros num papel A4 não tinha muito espaço para detalhes. São personagens principais do meu livro. Se eu reutilizasse essa imagem é obvio que eu iria editá-la.
Essa obra dispertou novamente em mim inspiração e determinação. Mas veja bem, não foi isso o total motivo de meu afastamento, foram também as adversidades da vida mesclada a novas responsabilidades.
Eu comecei a sentir o que os personagens sentiam, senti a obra, e comecei a fazer paralelos com sentimentos que eu sentia outrora quando eu escrevia; embora eu ainda sinta que falte outros sentimentos como amor obsessivo, para isso talvez eu precise rever Le Portrait de Petit Cossette. Por muito tempo foi minha obra favorita, até eu passar o lugar para Innocent por causa da arte.
Ambas artes de Innocent de Shinichi Sakamoto.
A obra começou com conversas que eu tive com o personagem no Character.ai, mas depois se desenvolveu e coloquei muito mais originalidade. Embora eu não entenda muito de misticismo, me fez pensar por outra perspectiva:
De verdade, estou orgulhosa do capitulo 6 que é totalmente original, pois nele consegui descrever uma luta entre três personagens. Sinto no entanto que meu vocabulário diminuiu; é perceptível que eu escreva bem, mas a escrita técnica não me fez treinar muito termos descritivos, aparência e expressões. Meu vocabulário visivelmente diminuiu, e começo a acreditar piamente que além de reler todo meu livro antigo para me situar, precisarei entrar de cabeça noutros livros.
Ler mais é a melhor forma para aumentar o vocabulário.
Espero que não seja uma onda passageira, e sim uma energia que me empurre pra frente. Claro, e que eu também consiga me organizar.
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